A ficção científica é um gênero bem popular, podemos ver produtos com essa temática na literatura, cinema, jogos e até mesmo na música. Dentro desse gênero floresce um outro bem interessante, o das distopias, que geralmente retratam estados imaginários, onde seus habitantes vivem sob a extrema opressão, medo e privação. Podemos elencar aqui diversos exemplos de obras distópicas, Jogos Vorazes, o Conto da Aia, Blade Runner e Half-Life.

Ao parar para analisar as principais obras distópicas podemos encontrar algo curioso. Em Nós, de Ievguêni Zamiátin, a população é privada do livre-arbítrio e liberdade de expressão. Em 1984 de George Orwell a cultura também é regulada, sendo que as pessoas só podem consumir o que o Estado julga justo, em Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley o consumo cultural é algo monopolizado e extremamente simplista. Mas tudo isso é ficção, certo? Bem… você já ouviu falar em Epistemicídio?

Epistemicídio é a destruição de conhecimentos, culturas, saberes e costumes de culturas não absorvidas pela cultura branca, é uma das consequências do processo de colonialismo europeu presente ao decorrer da história do mundo, incluindo o Brasil. Com a chegada dos portugueses ao nosso país a nosso cultura foi, aos poucos, sendo apagada pelos colonizadores, que implementaram sua religião, suas crenças, vestimentas e comportamentos em terras e corpos tupiniquins.

O tema foi assunto da palestra de encerramento da ação de conscientização negra da UniFCV, o projeto “Desacorrentando o Pensamento”. Durante o evento final três pessoas dialogaram sobre temas pertinentes ao assunto, entre eles estava o estudante de letras e ex-aluno do Axia, Bruno Barra da Silva e comentou sobre o epistemicídio na academia: “Durante o evento falei sobre o epistemicídio dentro e fora da academia. Falamos sobre como o racismo opera também na produção de conhecimentos. Nós possuímos um currículo extremamente branco, então existe a necessidade de discurso também dentro da universidade. O racismo é estrutural, e respinga no ensino” e ressalta a sensação de estar visitando sua casa antiga: “Foi muito bom receber esse convite em sendo ex-aluno do Axia, reencontrar professores, coordenadores, muitas pessoas que fizeram parte da minha formação e poder compartilhar o que estou aprendendo na academia juntamente com o movimento negro”, afirma Bruno.

Também durante a sexta-feira, a professora da instituição Renata Oliveira dos Santos, falou sobre a importância e se debater o assunto: “Minha fala se remetia as coleções dos convidados e a importância de eventos como esses para promover o que a ativista Ângela Davis afirmar: ” Numa sociedade racista, não basta não ser racista é necessário ser Antirracista”. Esses espaços são importantes para promover uma discussão necessário e muito pertinente. Proporcionar mesas redondas com essa temática possibilita a conscientização de mais sujeitos sociais por meio da educação e essa deve ser a função de um ambiente educacional, educada para além dos seus muros”.

Ao fim da palestra restou a nós um gosto amargo na boca e a certeza que a cultura é um traço vital para nós, ela não apenas nos completa, ela somos nós, e por isso que deve morrer, matar uma cultura é matar um povo todo.