Roda de conversa do UniCV sobre abuso sexual infantil reúne alunos de 17 estados
Evento on-line do UniCV foi realizado no Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual. Anualmente, 500 mil crianças e adolescentes são vítimas de violência no Brasil
Mais de 600 acadêmicos do Centro Universitário Cidade Verde (UniCV) assistiram a “Roda de Conversa Sobre a Prevenção ao Abuso Sexual Infantil” transmitida na noite dessa quinta-feira (18), pelo Youtube da instituição . O evento contou com a presença de alunos de 17 estados brasileiros (Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amazonas, Goiás, Pará, Alagoas, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santos, Piauí e Maranhão). Cinco palestrantes de áreas distintas de atuação participaram da atividade on-line, realizada em comemoração ao Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual – celebrado em 18 de maio.
Mediado pela docente Cristina Gabriel, a roda de conversa do UniCV teve falas das pesquisadoras e professoras Luzia Deliberador, Luiza Pinheiro, Jéssica Barbetto de Souza, Ednêa Juliana Maldonado e Josiane Borneia. As palestrantes trouxeram dados importantes sobre o assunto em âmbito local e nacional. Anualmente, 500 mil crianças e adolescentes são exploradas sexualmente no país e somente 7,5% desses casos são denunciados. Outra informação que impressiona, é que 80% dos registros de violência infanto-juvenil acontecem por familiares ou pessoas próximas as vítimas.
Sobre os altos índices de violência no Brasil, a professora do UniCV, Luzia Deliberador, argumentou que intuito do evento foi levar ao conhecimento de um maior número de pessoas estatísticas que possam sensibilizar a sociedade sobre a necessidade e urgência em discutir o tema, porque a cada três horas uma criança é vítima de abuso no país.
“O diálogo é extremamente necessário para que os responsáveis das vítimas identifiquem a mudança de comportamento dessas crianças e adolescentes, por isso, o conhecimento e a sensibilização sobre o tema se tornam tão importantes”, reforça.
A psicóloga e docente do UniCV, Jéssica Barbetto de Souza, falou sobre o “Impacto do abuso no desenvolvimento psíquico” e relatou como é difícil para os profissionais conseguirem que as crianças e adolescentes se sintam seguras para falar sobre o abuso sofrido.
“Os impactos do abuso no desenvolvimento infantil são inúmeros. É um crime extremamente grave que causa traumas; problemas emocionais, comportamentais e psiquiátricos; baixa autoestima e autoimagem negativa; disfunção sexual; dificuldades nos relacionamentos e Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)”, explica a professora. Ela ainda diz que 57% das vítimas de abuso desenvolvem o transtorno.
Complementando as discussões, a professora do curso de Direito do UniCV, Josiane Borneia, discorreu sobre as medidas protetivas relacionadas às crianças e trouxe informações sobre a Lei 14.344/2022 Henry Borel (LHB). De acordo com o Art. 1º, a lei cria mecanismos para prevenção e enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente nos termos da constituição federal.
“A lei Henry Borel muda o paradigma atual no tratamento da violência contra criança e o adolescente, porque tira o foco da punição de infratores para uma proteção integral e um tratamento mais amplo voltado às vítimas, especialmente as vulneráveis. É um sistema protetivo no âmbito doméstico e familiar, uma tutela diferenciada, para tratar e prevenir novas violências”, complementa Josiane.
Ela também discorreu sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e destacou o Art. 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Maringá no combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes
Na roda de conversa do UniCV, a professora Luiza Pinheiro (que atua no terceiro setor há anos), falou sobre o “Projeto Maringá fazendo a diferença contra a violência sexual infantil”. O grupo elabora estudos, tem núcleo de inteligência social e faz pesquisas a respeito da temática. Entre os dados levantados, por exemplo, está a informação de que a cada três mulheres, uma delas será abusada até completar 18 anos. E que a cada seis meninos, um deles também será vítima de abuso até a maioridade.
Após expor os dados, Luiza explicou que, hoje, o público infanto-juvenil é o mais vulnerável a sofrer qualquer tipo de violência e que durante anos este público foi às mulheres. “Temos políticas públicas que protegem às mulheres e falamos tanto em prevenção, que elas se empoderaram, os índices reduziram e as denúncias aumentaram. Já os adolescentes, têm dificuldades em entender que estão sendo vítimas de abuso e de violência sexual. Por isso, temos que continuar falando e conscientizando toda a sociedade sobre o assunto”, afirma Luiza.
Entre janeiro e abril de 2022, mais de quatro mil casos de abuso sexual infantil foram denunciados no Brasil. No entanto, a média de denuncias chega apenas a 10% do total de casos ocorridos. Em Maringá, de 2016 a 2020, mais de 500 casos foram autuados. “Mas, com base nos dados que indicam a baixa taxa de casos expostos a autoridades, podemos afirmar que mais de sete mil crianças e adolescentes podem ter sido abusadas na nossa cidade neste período”, analisou a professora.
Na esperança de minimizar o abuso infanto-juvenil, o Instituto São Rafael faz um trabalho incrível em Maringá com olhar social e mais reflexivo sobre o tema. A Ednêa Juliana Maldonado, uma das coordenadoras, apresentou o programa “Fazendo a diferença – uma experiência clínica institucional do município de Maringá” durante o evento e finalizou reforçando que a prevenção só se torna efetiva quando a violência não acontece mais. Portanto, o caminho certo é dar voz a essas crianças e adolescentes, muitas vezes aprisionadas pelo silêncio.