Um exemplo está em Guaíra, no Paraná, onde mais de trinta indígenas fazem faculdade; aldeia Marangatu tem o maior número de estudantes

Daniela Acosta, segunda indígena a se formar na faculdade na aldeia Marangatu

Desde o ano de 2012, através da Lei de Cotas nº 12.711, os indígenas brasileiros ganharam a possibilidade de ingressar em universidades públicas do país por meio da reserva de vagas. Mas poucos conseguem acesso. Conforme o Censo da Educação Superior de 2018, cerca de 0,68% dos aproximadamente 897 mil indígenas existentes no país, estavam no ensino superior.

Suprindo a necessidade de vagas para essa população, a Educação a Distância (EAD) tem chegado às aldeias indígenas e feito a diferença para essas pessoas. Um exemplo está em Guaíra, no Paraná, onde vivem aproximadamente 1.400 indígenas distribuídos em oito comunidades e vários fazem faculdade.

O polo de EAD do Centro Universitário Cidade Verde (UniCV), existente na cidade, atende a trinta indígenas na graduação, a maioria da aldeia Tekoha Marangatu, onde vivem mais de 500 guaranis.

Diploma

Neste mês de setembro, o UniCV foi responsável pela formação da segunda indígena desta tribo. Trata-se de Daniela Acosta, graduada em Pedagogia. Emocionada, a nova profissional disse que passou por muitas dificuldades nos estudos, mas conseguiu superar e “conquistar o sonho do diploma superior”.

Daniela não é a única da família neste caminho. Também a mãe, o irmão, a cunhada, os tios e tias dela estão na faculdade. Falta um ano para o irmão Pedro Montiel terminar a primeira graduação e ele já fala em fazer a segunda.  Paulo Martins, um dos tios, diz que sofreu bastante para conseguir acompanhar os conteúdos, porque ficou parado um tempo depois do ensino médio, mas hoje aconselha todo mundo a estudar.

Atenção especial

A professora Giane dos Reis Branco, gestora do polo do UniCV em Guaíra, diz que a Educação a Distância é um meio que atende às necessidades dessa população. “Fazer o curso presencial, para eles, é difícil, porque precisam morar na cidade e isto acaba tendo um custo que não conseguem arcar”, aponta a professora, que procura dar todo tipo de apoio para que estas pessoas consigam alcançar o sonho de fazer uma graduação.

Conforme a professora, ao estudarem, os indígenas sentem-se notados pela  sociedade e melhoram as condições de vida. No entanto, ela reconhece que existem barreiras, desde o deslocamento das aldeias até o acesso à internet. Para que possam acompanhar os conteúdos das aulas, os indígenas da Marangatu recebem as apostilas em casa e usam a estrutura do polo para assistir às aulas na internet e realizar as tarefas necessárias.

Formação

A maioria busca os cursos de licenciatura, como Pedagogia, já que o PSS (Processo Seletivo Simplificado), da Secretaria de Estado da Educação, dá a eles o direito de lecionar desde o início do curso nas escolas indígenas espalhadas pelo município. Na Marangatu funciona a maior delas, atendendo a 55 alunos do Ensino Fundamental I.

Embora o acesso dos indígenas ao Ensino Superior não chegue a 1% no país, a  presença deles nas universidades vem crescendo ano a ano. O Censo da Educação Superior de 2018 (versão mais recente do levantamento) apontou que 57.706 indígenas estavam matriculados no Ensino Superior, representando um crescimento de 695% em relação a 2010, quando eram 7.256.